1)
Roberto
Landell de Moura (Porto Alegre, 21 de janeiro de 1861 – Porto
Alegre, 30 de junho de 1928) foi um padre
católico, cientista e inventor brasileiro.
2)
Teve sólida formação cultural e científica, e
formou-se sacerdote em Roma. Voltando ao Brasil, passou a desenvolver sua carreira
eclesiástica, sendo indicado para diversas paróquias nos estados do Rio Grande do
Sul e São Paulo,
mas pouco se sabe deste aspecto de sua vida, que parece ter sido pouco
expressivo.
3)
Embora fosse devotado ao sacerdócio, antes de radicar-se
definitivamente no Rio Grande do Sul suas passagens pelas paróquias foram
tipicamente breves, e mais de uma vez pediu exoneração voluntária. Sabe-se que
sua devoção à ciência e suas ideias avançadas para seu tempo causaram algumas
vezes o espanto e a revolta dos católicos,
e isso pode ter sido um fator importante na sua incapacidade de desenvolver um
trabalho pastoral estável, e ao mesmo tempo seus experimentos ocupavam muito de
sua energia e atenção.
4)
Somente na fase final de sua vida religiosa, já tendo
deixado a ciência em segundo plano, sua carreira na Igreja se consolidou, sendo
designado sucessivamente vigário-geral da Arquidiocese de Porto Alegre, cônego e
penitenciário do Cabido Metropolitano, monsenhor e arcediago,
responsável também pela paróquia do Menino Deus e
finalmente pela paróquia do
Rosário, em cuja igreja hoje estão depositados seus despojos.
5)
Landell de Moura, no entanto, é mais conhecido pelo
seu pioneirismo na ciência da telecomunicação, tendo desenvolvido uma série
de pesquisas e experimentos que o colocam como um dos primeiros a conseguir a
transmissão de som e sinais telegráficos sem
fio por meio de ondas eletromagnéticas, o que daria origem
ao telefone e
ao rádio, senão o primeiro de todos, o que
ainda é motivo de polêmicas.
6)
Vários testemunhos afirmam que ele vinha realizando
testes bem sucedidos em ambas as modalidades de transmissão desde 1893 ou 1894,
mas a documentação sobre esses primeiros experimentos é pobre e a data é
disputada. O seu primeiro registro inconteste, documentado publicamente, é de 3
de junho de 1900, testando com sucesso aparelhos que transmitiram sem fio sons
e sinais telegráficos. No Brasil ele usualmente é considerado o pioneiro em
nível mundial. Nos outros países sua realização permanece largamente ignorada,
embora um crescente número de fontes estrangeiras estejam aceitando sua
primazia.
7)
Também deixou projetos que apontam seu pioneirismo na
transmissão de imagens sem fio, sendo considerado nacionalmente um precursor
da televisão e
das fibras ópticas, mas também nestes campos a
documentação sobrevivente não é muito clara, e internacionalmente sua
contribuição nesta área específica caiu num esquecimento quase total.
8)
Demonstrou paralelamente algum interesse pela homeopatia,
pela psicologia e
pelo espiritismo, abordados pelo viés da ciência. Teve
muitas dificuldades técnicas e financeiras para desenvolver suas pesquisas,
trabalhou a maior parte do tempo sozinho e encontrou muita resistência e
incredulidade por parte de autoridades e da população, o que impediu que seu
reconhecimento em vida fosse mais amplo, mas em certas esferas sua estatura
científica foi devidamente apreciada e sabe-se que rejeitou oportunidades de
divulgar seus inventos.
9)
Assim, a ideia popular que se formou em torno dele
como um perseguido, injustiçado e sofrido cientista enfrentando um mundo
insensível e obscurantista, se tem uma parte de verdade, tem também seu lado de
mito romântico. A sua biografia ainda tem muitas lacunas e do seu legado
científico apenas parte foi estudado, havendo muita documentação autógrafa
ainda por explorar.
10)
Seja como for, no Brasil já recebeu uma série de
homenagens e reconhecimentos oficiais. É cidadão honorário da cidade de São Paulo, patrono da Ciência, da
Tecnologia e da Inovação do município de Porto Alegre, patrono dos radioamadores brasileiros,
e em 2012, por decreto presidencial, seu nome foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria.
11)
Roberto Landell de Moura nasceu na cidade de Porto
Alegre, capital do estado do Rio Grande do
Sul, em 21 de janeiro de 1861, filho do capitão do Exército e grande comerciante de carvão
Inácio José Ferreira de Moura e de Sara Mariana Landell, ambos de tradicionais
famílias gaúchas, descendente o pai de portugueses e a mãe de escoceses. Foi o
quarto de quatorze irmãos, tendo sido batizado na Igreja do Rosário, junto
com sua irmã Rosa, em 19 de fevereiro de 1863.
12)
Seu pai lhe transmitiu as primeiras letras. Realizou
os seus primeiros estudos formais em Porto Alegre, na escola do professor Hilário Ribeiro, e em 1872 matriculou-se com
seu irmão Ignácio no Colégio Jesuíta de Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo,
na época o mais distinguido colégio do estado, onde cursou Humanidades,
concluindo esta etapa em 10 de outubro de 1873.
13)
Voltou a Porto Alegre e ingressou em 1874 no colégio
do professor Fernando Ferreira Gomes, também um educandário de grande prestígio
e o maior da capital, onde estudou francês, alemão e gramática portuguesa. Em
manuscritos seus, há uma notícia de que aos dezesseis anos teria inventado uma
espécie de telefone, apenas um ano depois de Graham Bell,
mas não deixou nenhuma descrição precisa do aparelho.
14)
Com o fechamento parcial do Colégio Gomes em 1876,
devido à aposentadoria do seu diretor, Landell de Moura seguiu para
o Rio de Janeiro, com o objetivo de estudar
na Escola Politécnica, ao que
parece sustentando-se com emprego em um armazém de secos e molhados. No
entanto, permaneceria ali poucos meses.
15)
Seu irmão Guilherme o encontrou na cidade do Rio antes
de seguir para Roma,
onde estudaria para tornar-se padre, e o convenceu a abraçar também a vida
religiosa. Matriculou-se em 22 de março de 1878 no Colégio Pio Americano,
onde estudou Direito Canônico, ingressando ao mesmo tempo
na Universidade Gregoriana, onde fez outros
estudos, de natureza incerta.
16)
Completou sua formação eclesiástica e foi
ordenado sacerdote secular em 28 de outubro de 1886, no mesmo dia
celebrando sua primeira missa. Em Roma conceberia sua teoria sobre a unidade
entre as forças físicas do Universo e sua harmonia essencial. Chegando de
retorno ao Brasil em 7 de fevereiro de 1887, passou a residir no Seminário São
José, localizado no Morro do
Castelo, no Rio de Janeiro.
17)
Nesta época substituiu algumas vezes o coadjutor do
capelão do Paço Imperial, rezando sua primeira missa no
Rio para o imperador D. Pedro II e sua corte. Com o imperador,
outro amante das ciências, entreteria várias conversas. Contudo sua permanência
no Rio seria novamente breve. Em 20 de fevereiro de 1887 estava de volta ao Rio
Grande do Sul, nomeado capelão da Capela Nosso Senhor Jesus do Bom Fim e
professor de História Universal do Seminário Episcopal de Porto Alegre.
18)
Em 27 de junho de 1891 foi provisionado vigário encomendado da Paróquia de Santana
na cidade de Uruguaiana, ali ficando até 31 de outubro do mesmo ano.
19)
Em 1892 foi transferido para o estado de São Paulo, designado para a paróquia
de Santos,
e de 28 de outubro de 1894 a 19 de dezembro de 1896 foi pró-pároco da Igreja
Matriz de Santa Cruz (hoje a Basílica Nossa Senhora do Carmo),
em Campinas,
mandando dourar o púlpito, as tribunas e os altares, mas desenvolveu uma
atuação pastoral discreta, uma vez que era um simples substituto do titular,
o cônego Cipião
Goulart Junqueira, que já era idoso.
20)
Em 2 de março de 1898 foi nomeado pároco da Capela de Santa Cruz de Santana, na cidade de São Paulo, assumindo também a
responsabilidade pela tesouraria da paróquia e pela capelania do Colégio
Sagrado Coração de Maria. No ano seguinte ele é encontrado envolvido em um
grandioso projeto de construção de uma instituição de ensino, a que chamou de
“A Polymathica”, composta de um internato,
um externato, um colégio proletário e um grêmio para abrigo de senhoras que
queriam se retirar do mundo, mas seus planos acabaram frustrados, pois não
conseguiu verbas para finalizar as obras.
21)
Permaneceria nesta paróquia até outubro de 1900,
quando exonerou-se. Neste ínterim começava a ser conhecido pelo seu
envolvimento com a ciência e iniciava suas primeiras experiências, que desde
logo despertaram controvérsias e lhe deram má fama popular.
22)
Previa que seria possível a comunicação entre mundos
diferentes, e divulgando essas ideias, provocou a ira de seus paroquianos, pois
a doutrina da Igreja na época não
admitia a possibilidade de vida fora da Terra. Por conta destas
ideias revolucionárias, teve seu laboratório vandalizado.
23)
Em 1892 teria construído o primeiro transmissor sem
fio de mensagens, antes de Guglielmo
Marconi fazer seus primeiros testes na Itália.
Entre 1893 e 1894, segundo Fornari, seu primeiro biógrafo e seu
contemporâneo, teria realizado a primeira transmissão pública de som por
meio de ondas
hertzianas, ocorrida entre o alto da Avenida
Paulista e o Alto de
Santana, cobrindo uma distância de oito quilômetros.
24)
Na ocasião ele testou um transmissor de ondas,
um telégrafo sem
fio e um telefone sem
fio. Contudo, segundo Luiz Netto, não existe documentação sólida a respeito da
data dos primeiros experimentos, o que prejudicou seu reconhecimento
internacional.
25)
Testemunhos de Jayme Leal Velloso, Arthur Dias, Maria
Ribeiro de Almeida e do Correio do Povo, recolhidos por Hamilton
Almeida, colocam seus primeiros experimentos entre 1890 e 1896. Os
experimentos se sucederiam, e em 1899 o Jornal do Commercio assinalou
seu sucesso e seu pioneirismo mundial no campo da transmissão do som sem fio.
26)
"Nas diversas experiências
executadas recentemente notou o inteligente inventor, que a zona que à mercê
das vibrações do éter percorre o som articulado, se vai alargando à medida que
se aproxima do receptor, de modo que, colocando-se vários desses receptores
dentro do mesmo campo de recepção, alguns metros separados uns dos outros,
todos eles recebem ao mesmo tempo com a mesma clareza a palavra transmitida.
Deste resultado, que se saiba, não o obteve sábio algum, nem no velho nem no
novo mundo, cabe ao padre Landell toda a glória da invenção. Para tal alcançar
não se pense que o infatigável homem de ciência foi de um salto, há muitos anos
que faz experiências e estuda metodicamente, entregando-se inteiramente à
construção do triunfo que acaba de conseguir, sujeito por certo às leis da mais
esquisita precisão, das quais fez nascer o seu pequeno aparelho transmissor e o
seu pequeníssimo receptor".
27) A primeira inequívoca demonstração pública de seus inventos ocorreu no dia 3 de junho de 1900, tendo como testemunhas o cônsul britânico em São Paulo, Percy Charles Parmenter Lupton, mais autoridades brasileiras, empresários e populares, "as quais foram coroadas de brilhante êxito", conforme noticiou o Jornal do Commercio. A bibliografia brasileira em geral aceita este testemunho como fidedigno, e considera pelo menos plausível a hipótese de que tenha tido sucesso na transmissão de som sem fio bem antes.
27) A primeira inequívoca demonstração pública de seus inventos ocorreu no dia 3 de junho de 1900, tendo como testemunhas o cônsul britânico em São Paulo, Percy Charles Parmenter Lupton, mais autoridades brasileiras, empresários e populares, "as quais foram coroadas de brilhante êxito", conforme noticiou o Jornal do Commercio. A bibliografia brasileira em geral aceita este testemunho como fidedigno, e considera pelo menos plausível a hipótese de que tenha tido sucesso na transmissão de som sem fio bem antes.
28)
Alguns admitem que possa ter
antecedido também as conquistas de Guglielmo
Marconi na transmissão de sinais telegráficos sem fio. Em 10 de dezembro de 1900 o doutor J. Rodrigo Botet, através do
jornal La Voz de España,
em sua edição brasileira, reforçou o seu pioneirismo.
29)
"Um jornal da capital
federal atribuiu a invenção desse aparelho, que tem a propriedade de transmitir
a voz humana a uma distância de oito dez ou 12 quilômetros sem necessidade de
fios metálicos, ao engenheiro inglês Brighton. O diário a que me refiro está
mal informado. Nem a invenção do sistema de transmitir a palavra a distâncias é
recente nem foi um inglês o primeiro sábio que resolveu satisfatoriamente esse
árduo problema, que envolveu os mais intricados princípios físico-químicos que
podem oferecer-se a ciência humana. O que primeiro penetrou e descobriu os
grandes segredos da telúrica etérea com glória e proveito, faz pouco mais ou
menos um ano foi um brasileiro, foi o nobre sábio o padre Roberto Landell de
Moura. Porque acompanhei passo a passo o estudo de seus inventos sobre
telegrafia e telefonia, com e sem fios; porque fui testemunha presencial de
várias experiências, todas prodigiosas; e porque tive a honra de me ocupar do
sábio e de suas eminentes obras em dois artigos publicados em El Diário Español, de São Paulo,
artigos que mereceram a honra de ser reproduzidos no Rio de Janeiro, no Jornal do Comércio, por tudo isto,
julgo-me obrigado, agora a sair em defesa do direito de prioridade que assiste
ao benemérito brasileiro o padre Roberto Landell de Moura, no que tange à
transmissão da palavra falada sem necessidade de fios. [...]
30)
"O mérito cresce de ponto,
em se considerando que os inventores europeus e americanos dispõem de operários
mecânicos inteligentíssimos e de fábricas e laboratórios onde escolher as peças
que a feitura de seus mecanismos requer. O pe. Landell tem que conceber e
executar ele mesmo os aparelhos, sendo a um só tempo o sábio que inventa, o
engenheiro que calcula e o operário que forja e ajusta todas as peças de
complicadíssimos mecanismos. [...] Mas acontece que o humilde sacerdote se
fecha em sua modéstia habitual em vez de dormir sobre os louros. Os poucos
amigos e admiradores que tem a seu lado são capazes de compreender o sábio e
avaliar o valor de seus inventos".
31)
Com os bons resultados obtidos,
em 9 de março de 1901 Landell de Moura conseguiu obter a primeira patente brasileira para um
“aparelho destinado à transmissão fonética à distância, com fio ou sem fio,
através do espaço, da terra e do elemento aquoso”. Diante disso, a Igreja
reconheceu o seu mérito e autorizou que iniciasse em 14 de junho uma excursão
científica, que passou pela Itália, França e Estados Unidos. Neste país instalou um laboratório na cidade de Nova York onde permaneceria quatro
anos. Ele pretendia patentear os inventos também nos Estados Unidos, mas o
Departamento de Patentes exigiu a apresentação de protótipos funcionais para
conceder os registros. Como ele havia levado apenas os projetos, teve de
construir três aparelhos, o que prolongou sua estadia. O jornal New York Herald publicou
em 1902 uma reportagem sobre as experiências desenvolvidas na transmissão de
sons sem uso de aparelhos com fio, inclusive por cientistas americanos,
alemães, ingleses dentre outros, destacando o padre Landell com uma fotografia
e uma entrevista. Ressalta o jornal: "Por entre os cientistas, o
brasileiro Padre Landell de Moura é muito pouco conhecido. Poucos deles tem
dado atenção aos seus títulos para ser o pioneiro nesse ramo de investigações
elétricas. Mas antes de Brighton e Ruhmer, o Padre Landell, após anos de
experimentação, conseguiu obter uma patente brasileira para sua invenção, que
ele chamou de Gouradphone".
32)
Segundo Santos e Casonatto, a
partir da divulgação dos seus inventos na imprensa, empresários
norte-americanos ofereceram elevadas somas ao padre para que autorizasse a sua
produção industrial.
33)
Porém, ele recusou esta
oportunidade de ser reconhecido em ampla escala, dizendo que “os inventos já
não mais me pertencem. Por mercê de Deus, sou apenas o depositário deles. Vou
levá-los para minha Pátria, o Brasil, a quem compete entregá-los à
humanidade”.
34)
Enquanto estava lá,
contraiu pneumonia e bronquite e passou alguns meses em Cuba em
busca de melhores ares, voltando a Nova Iorque em 3 de junho de 1903, e
retomando seu trabalho nos protótipos. Em 1904 obteve enfim três patentes
norte-americanas: número 771.917, de 11 de outubro, para um “transmissor de
ondas”, e em de 22 de novembro as de números 775.337 e 775.846, para um “telefone
sem fio” e para um “telégrafo sem fio”, que poderiam funcionar através da luz
ou de ondas de rádio, com ou sem fio.
35)
No mesmo ano desenvolveu um
projeto para transmissão de imagens à distância, cuja tecnologia o tornaria
também um pioneiro da televisão, do teletipo e do controle remoto. Novamente Netto diz que a documentação é pobre sobre este
trabalho, impedindo que se conheça até que ponto ele chegou realmente.
36)
Voltou ao Brasil em 1905,
assumindo a paróquia de Botucatu, mas continuava com suas pesquisas, solicitando no mesmo ano um auxílio
financeiro aos deputados do estado de São Paulo a fim de poder continuar seus
trabalhos e colocar em prática seus inventos, mas seus pedidos não
sensibilizaram os parlamentares e foram arquivados.
37)
Fez um apelo ao presidente da
República Rodrigues Alves para que disponibilizasse dois navios da Marinha, desejando
demonstrar a transmissão sem fio em longas distâncias.
38)
O assessor da Presidência
encarregado de analisar o caso não deu crédito ao padre, e consta que disse ao
presidente: “Excelência, o tal padre é positivamente maluco. Imagina que ele
chegou até a falar-me na possibilidade de conversar um dia, com outros mundos”,
o que resultou na rejeição de seu pedido. Inconformado, em um acesso de raiva, Landell destruiu vários de
seus aparelhos.
39)
De acordo com declarações tardias
de Landell de Moura, nesta época ele teria sido obrigado pela Igreja a
abandonar seus experimentos. Em 22 de abril de 1906 assumiu a paróquia de Mogi das Cruzes, mas nada ficou registrado de
sua passagem e exonerou-se em 24 de março de 1907.
40)
Neste ano escreveu um memorial
descrevendo os efeitos eletro-luminescentes de um indeterminado campo
energético que envolveria os seres vivos, registrando-os em filme fotográfico,
fenômeno conhecido hoje como efeito Kirlian, mas não se sabe se ele tinha
conhecimento de experiências anteriores de Fernando Sanford neste campo.
42)
Sem uma designação eclesiástica,
Landell de Moura passou algum tempo em Tambaú e depois voltou para a capital paulista.
43)
Em 2 de julho de 1908 foi nomeado
vigário encomendado da paróquia de Nossa Senhora da Conceição de Caconde, atendendo também uma capela
em Tapiratiba e
outras cidades da região de Ribeirão Preto. No ano seguinte demonstrou interesse em partir.
44)
Como havia ganhado a simpatia da
comunidade, foi feito um abaixo-assinado para que permanecesse, mas em 27 de
setembro de 1908 pediu exoneração e transferiu-se para o Rio Grande do Sul. Chegou a Porto Alegre em 15 de outubro, assumindo
a paróquia do Menino Deus,
onde atuou até 31 de dezembro de 1914.
45)
Há poucos sinais de suas atividades neste intervalo,
quer científicas, quer pastorais. Participou da cerimônia de inauguração de um
pequeno jardim zoológico no bairro do Menino Deus em 1913 e por algum tempo foi
diretor do Asilo de Santa Thereza, hoje o Asilo Padre Cacique.
46)
Ainda em 1913 trabalhou no aperfeiçoamento do seu
sistema de transmissão de imagens, dando-lhe o nome de "televisão".
Com a fundação da Faculdade de Medicina Homeopática em 1914, assumiu uma
cátedra, junto com seu irmão João, que era farmacêutico e médico.
47)
Na inauguração da escola, em 2 de março, o padre
Landell proferiu um discurso sobre a lei dos similares, que constitui o
princípio básico da homeopatia.
48)
No entanto, no mesmo ano uma crise interna provocou a
cisão da instituição em duas novas escolas superiores, a Faculdade de Ciências
Médicas e Escola Médico-Cirúrgica, e em nenhuma delas a homeopatia foi
incluída.
49)
Retomou suas atribuições eclesiásticas e em 6 de
janeiro de 1915 foi nomeado vigário-geral da Arquidiocese.
50)
Diz Casonatto que "segundo alguns, havia deixado
a paróquia do Menino Deus profundamente magoado e como que desanimado".
51)
Talvez isso tenha se devido em parte a uma saúde em
declínio, havendo notícia desde 1915 de uma série de pedidos de licença para
tratamento médico e temporadas em estações termais.
52)
Assumiu ao mesmo tempo a paróquia de
Nossa Senhora do Rosário, onde entrou várias vezes em conflito
com o clero e os fiéis a respeito de devoções não aprovadas e por seus estudos
sobre o espiritismo e a psicologia,
mas segundo Casonatto deixou as finanças da paróquia em boas condições.
53)
Em 7 de junho de 1916 foi nomeado cônego
capitular e penitenciário do Cabido Metropolitano de Porto Alegre.
54)
Em 1919 publicou o livro Apontamentos de Psychologia e em 1920 participou da
fundação do Instituto
Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul.
55)
Em 17 de setembro de 1927 recebeu o título
eclesiástico de monsenhor, e no ano seguinte foi nomeado arcediago.
56)
Em 1928, com a vida periclitando e já recolhido ao
hospital da Beneficência Portuguesa,
um amigo perguntou-lhe por que motivo nunca havia feito propaganda de seus
inventos e de suas patentes, e a resposta foi que "não podia e não devia
aparecer como inventor.
57)
E continuou que anos antes, havia sido aconselhado a
deixar a batina, para dedicar-se só à ciência, respondera que não por que
respeitava seu voto, e que seu sacerdócio fora a maior aspiração de seus pais.
Resolveu renunciar às glórias que as suas invenções lhe puderam conquistar.
58) Faleceu no dia 30 de junho de 1928, vitimado pela tuberculose, agravada pelo tabagismo, sendo um fumante inveterado. Recebera os últimos sacramentos do arcebispo metropolitano dom João Becker.
58) Faleceu no dia 30 de junho de 1928, vitimado pela tuberculose, agravada pelo tabagismo, sendo um fumante inveterado. Recebera os últimos sacramentos do arcebispo metropolitano dom João Becker.
59)
A encomendação do corpo ocorreu na Catedral entre grande
solenidade, oficiada pelo arcebispo e vários outros clérigos, e acompanhada por
todo o Cabido e grande assistência popular, num dia de chuva torrencial, sendo
sepultado na Gruta de Nossa Senhora de Lourdes do Cemitério São Miguel e Almas.
60)
Sua morte foi noticiada em vários jornais, recebeu obituários
elogiosos, e a Assembleia Legislativa do Estado aprovou um Voto de Pesar.
61)
Em 13 de julho de 2002, com grande cortejo solene de
populares, autoridades e destacamentos da Brigada
Militar, da Liga de Defesa Nacional, do Movimento Tradicionalista Gaúcho,
do 3º Batalhão de Comunicações do Exército e de escoteiros, seus restos mortais
foram transladados sobre um carro do Corpo de Bombeiros até a Igreja do
Rosário, onde foram inumados num altar lateral, sendo instalada ali uma placa
comemorativa.
62)
O trabalho de Landell de Moura se
insere num grande movimento científico internacional, que no século XIX buscava
uma melhoria na capacidade de comunicação à distância, uma corrida que era
estimulada principalmente pelo empresariado em busca de lucro, mas também por
instâncias governamentais, diante de suas aplicações estratégicas, econômicas,
políticas e práticas.
63)
Landell pesquisou a aplicação
das ondas eletromagnéticas, previstas teoricamente por James Clerk Maxwell na
primeira metade da década de 1860, e demonstradas praticamente por Heinrich Rudolf Hertzem 1887.
64)
Muitos outros cientistas se
destacaram pelas contribuições
que deram para o que veio a ser conhecido como rádio, entre eles Alexander Stepanovich Popov, Nikola Tesla, Guglielmo Marconi, Édouard Branly e Oliver Lodge, desenvolvendo tecnologias que propiciaram a abertura de duas linhas principais de pesquisa, a telegrafia sem fio (transmissão de sinais) e a telefonia
sem fio (transmissão de som), ampliando as possibilidades dessas modalidades de comunicação, que até então dependiam de redes de transmissão com fio,
que tinham um elevado custo de construção e ainda padeciam de vários inconvenientes técnicos em termos de segurança e qualidade de transmissão.
65) Marconi fez suas primeiras experiências bem sucedidas de um telégrafo sem fio em 1895, e obteve em 1896 a sua primeira patente, sendo em geral creditado como o pioneiro neste campo, logo surgindo uma grande indústria em seu redor.
que deram para o que veio a ser conhecido como rádio, entre eles Alexander Stepanovich Popov, Nikola Tesla, Guglielmo Marconi, Édouard Branly e Oliver Lodge, desenvolvendo tecnologias que propiciaram a abertura de duas linhas principais de pesquisa, a telegrafia sem fio (transmissão de sinais) e a telefonia
sem fio (transmissão de som), ampliando as possibilidades dessas modalidades de comunicação, que até então dependiam de redes de transmissão com fio,
que tinham um elevado custo de construção e ainda padeciam de vários inconvenientes técnicos em termos de segurança e qualidade de transmissão.
65) Marconi fez suas primeiras experiências bem sucedidas de um telégrafo sem fio em 1895, e obteve em 1896 a sua primeira patente, sendo em geral creditado como o pioneiro neste campo, logo surgindo uma grande indústria em seu redor.
66)
A primazia pode, no entanto,
caber a Landell de Moura, que de acordo com vários testemunhos teria realizado
experimentos bem sucedidos tanto em telegrafia quanto em telefonia sem fio
desde 1893, e embora esta data tenha sido reconhecida em dois artigos de uma
grande enciclopédia norte-americana sobre a história do rádio e em algumas
outras publicações internacionais, mesmo no Brasil estas primeiras evidências ainda estão sob
controvérsia. Seu primeiro experimento público inconteste foi realizado em 3 de
junho de 1900, e sua primeira patente foi obtida em 1901.
67)
Por outro lado, fora do
Brasil Reginald Fessenden é
tido em geral como o primeiro a ter conseguido demonstrar publicamente a
telefonia sem fio, em experimento levado a cabo com sucesso em 24 de dezembro
de 1900.
68)
Deve-se observar que, segundo as
descrições disponíveis, abaixo detalhadas, as transmissões de som realizadas
por Landell ocorreram através de ondas de rádio e de luz, e caber-lhe-ia a
primazia na primeira modalidade, na qual trabalharam também Marconi e
Fessenden, mas na segunda ela pertence a Graham Bell, que realizou um experimento em 1880 através do Fotofone, patenteado no mesmo ano.
69)
Apesar do seu evidente
conhecimento profundo da ciência, a origem deste conhecimento é um tanto
obscura. O curso na Escola Politécnica do Rio pode ter-lhe dado alguma base, mas ali permaneceu poucos
meses, e seu biógrafo Hamilton Almeida refere que teria se graduado em Física e Química na Universidade Gregoriana de
Roma, mas segundo pesquisas recentes de Odalberto Casonatto, naquela época a
Universidade não ministrava tais matérias, e provavelmente teria acompanhado em
vez um ou mais dos cursos regulares da instituição, que eram Teologia, Direito Canônico, Filosofia, História e Bens Culturais da
Igreja, Missiologia, Ciências Sociais e
Espiritualidade, Psicologia, Ciências Religiosas, Estudos Judaicos e Estudos sobre Religiões e
Cultura. De acordo com Sílvio Lancellotti, sua
formação científica foi obtida em grande parte de forma autodidata. Em 1893 Landell enunciou os princípios de seu trabalho.
70)
"Todo movimento vibratório
que até hoje, como no futuro, pode ser transmitido através de um condutor, poderá ser transmitido através
de um feixe luminoso; e, por esse mesmo fato, poderá ser transmitido sem o
concurso desse agente.
71)
"Todo movimento vibratório
tende a transmitir-se na razão direta de sua intensidade, constância e
uniformidade de seus movimentos ondulatórios, e na razão inversa dos obstáculos
que se opuserem à sua marcha e produção.
72)
"Dai-me um movimento
vibratório tão extenso quanto a distância que nos separa desses outros mundos
que rolam sobre nossa cabeça, ou sob nossos pés, e eu farei chegar minha voz
até lá".
74)
“O aparelho Telauxiofono é última
palavra, sobre telefonia com fio, não só pelo vigor e inteligibilidade com que
transmite a palavra, mas também porque, com ele, se obtêm todos os efeitos do
telefone alto-parlatore e do teatrofono. Com esta notável diferença, que se
tratando da teatrofonia, é suficiente um só transmissor, por maior que seja o
número dos concertantes. Além disso, com o Telauxiofono, o problema da
telefonia ilimitada tornar-se-á uma realidade prática e econômica. O Caleofono,
como o precedente, trabalha também com fio, e é original porque, em vez de
tocar a campainha para chamar, faz ouvir o som articulado ou instrumental. É
muito apropriado para escritórios. O Anematofono, com o qual, sem fio, obtêm-se
todos os efeitos da telefonia comum, porém com muito mais nitidez e segurança,
visto funcionar ainda mesmo com vento e mau tempo. É admirável este aparelho,
pelas leis inteiramente novas que revela. O Teletiton, espécie de telegrafia
fonética com o qual, sem fio, duas pessoas podem-se comunicar, sem que sejam
ouvidas por outra. Creio que com este sistema poder-se-á transmitir por meio da
energia elétrica a grandes distâncias e com muita economia, sem que seja
preciso usar-se de fio ou cabo condutor. O Edifono finalmente serve para
dulcificar e depurar as vibrações parasitas da voz fonografada, reproduzindo-a
ao natural. Este aparelho tornar-se-á o amigo inseparável dos músicos
compositores e dos oradores".
75)
O memorial apresentado para a
obtenção da patente brasileira cita que o aparelho permite “projetar pelo
espaço a voz a distâncias bem regulares. Funciona com sol, chuva, tempo úmido e
forte cerração, como também com vento contrário se usarmos de placas
automáticas e, nestes dois últimos casos, a distância a que se pode chegar é
verdadeiramente prodigiosa. No mar, quando há cerração, e nas regiões calmas,
esse aparelho pode prestar muito bons serviços”.
76)
De acordo com Daltro Darisbo,
fundador do Museu do Rádio do Rio Grande do
Sul, Landell fez transmissões
através de dois sistemas principais. O primeiro era um transmissor de ondas que
utilizava um microfone eletromecânico inventado por ele, que recolhia as ondas sonoras em uma câmara de ressonância "onde
um diafragma metálico abria e fechava o circuito do primário de uma bobina de Ruhmkorff, induzindo no secundário dessa bobina uma alta tensão que era irradiada
ou através de uma antena ou de duas esferas centelhadoras. A detecção era feita
por dispositivos que foram sendo melhorados ao longo do tempo". O
interruptor fonético era o elemento-chave do aparelho e sua verdadeira inovação,
pois praticamente todos os outros componentes já eram conhecidos em seu tempo.
Segundo a análise de técnicos da Telebras,
a capacidade de transmitir em ondas contínuas deriva de "uma válvula cujas
características se aproximavam da válvula de três eletrodos, que a partir da invenção de Lee De Forest (1907) passou a dominar totalmente os meios de
transmissão". A invenção desta válvula de três eletrodos também é
muitas vezes atribuída a Landell, mas erroneamente. De acordo com a Unicamp, o que Landell utilizou foi
o tubo de Crookes, que tem um acelerador de elétrons mas é incapaz de controlar este fluxo, o que as válvulas
amplificadoras conseguem. O engenheiro da Faculdade Metropolitana Londrinense Carlos Guerra Lima aponta, por outro lado, que mesmo usando o tubo
de Crookes, no seu projeto havia uma clara intenção obter uma amplificação
associando o tubo a um oscilador, e que "se pode dizer sem
sombra de dúvidas é que este equipamento era muito mais complexo tecnicamente
do que os desenvolvidos por Marconi e Rhumer". Landell também recomendou,
antecipando Marconi em muitos anos, o emprego preferencial de ondas curtas a fim de aumentar o alcance
das transmissões.
77)
O segundo sistema utilizado pelo
cientista, também de acordo com Darisbo, era um telefone sem fio que utilizava
a luz como uma onda portadora da informação de áudio. "Nesse aparelho, as variações das pressões acústicas da voz eram
transformadas em variações de intensidade de luz, captadas por uma superfície
parabólica espelhada. No foco dessa parábola havia um dispositivo cuja resistência ohmica variava
segundo as variações da intensidade de luz". No circuito de detecção havia
apenas uma chave, um par de fones de ouvido, uma bateria e o dispositivo fotossensível, que identificava a variação da luz incidente e fazia variar de acordo
a corrente elétrica, que em resposta fazia vibrar uma membrana metálica,
gerando uma vibração acústica similar à emitida, possibilitando a
comunicação. A detecção da luz era feita por células de selênio. Estas células não eram invenção
sua, mas de Graham Bell, que as usou em seu Fotofone. Ele, porém, não foi mais
adiante porque a distância coberta era pequena demais, apenas de alguns metros,
e o inventor julgou que o aparelho teria pouca utilidade. Landell conseguiu
aumentar significativamente o alcance com uma fonte de luz de grande potência
que empregava o arco voltaico e pelo uso dos espelhos parabólicos em uma nova disposição. Demonstrando
conhecimentos sobre o efeito fotoelétrico e
por utilizar a luz como meio de transporte de informação, Landell é considerado
um dos precursores das fibras ópticas.
78)
Já o Teleforama, cujo projeto
data de 1904, seria um aparelho para a transmissão de imagens à distância,
fazendo do padre um pioneiro da televisão, antecipando em mais de vinte anos as primeiras demonstrações em 1926
do escocês John Logie Baird, que recebeu o crédito como o inventor do primeiro sistema televisivo
viável. Mas não sobreviveu um modelo, não se sabe se chegou a ser
construído, e o projeto é pouco detalhado. Técnicos da Telebras, analisando as
evidências, concluíram que é uma tentativa de construir um registrador
telegráfico, o que significaria que ele seria pelo menos o inventor do controle remoto pelo rádio e do teletipo, invenções que na história
oficial ficaram conhecidas respectivamente durante a I Guerra Mundial e em 1928.
79)
Em 1984 a Fundação de Ciência e Tecnologia, de Porto Alegre, reconstruiu o Transmissor de Ondas patenteado em 1904
nos Estados Unidos. Os testes tiveram sucesso na transmissão em uma larga faixa
de frequência e em distâncias de até 50 metros. Os técnicos supõem que na época
do padre a distância poderia ter sido bem maior, devido à ausência da
interferência eletromagnética que hoje existe. O aparelho distorceu severamente
a voz, tornando-a muitas vezes incompreensível, mas sua efetividade na
transmissão de som foi comprovada. O aparelho foi demonstrado publicamente em 1984, e Almeida
descreve o evento.
80) "O aparelho foi apresentado em público, pela primeira vez, nas solenidades de encerramento da Semana da Pátria. No dia 7 de setembro de 1984, em frente ao Monumento do Expedicionário, na capital gaúcha, o governador do Rio Grande do Sul, Jair Soares, pronunciou, pelo fone do aparelho, duas palavras que foram ouvidas nitidamente por centenas de pessoas: 'Porto Alegre'. Aquele momento festivo cristalizou de maneira incontestável a funcionalidade do invento do Padre Landell".
80) "O aparelho foi apresentado em público, pela primeira vez, nas solenidades de encerramento da Semana da Pátria. No dia 7 de setembro de 1984, em frente ao Monumento do Expedicionário, na capital gaúcha, o governador do Rio Grande do Sul, Jair Soares, pronunciou, pelo fone do aparelho, duas palavras que foram ouvidas nitidamente por centenas de pessoas: 'Porto Alegre'. Aquele momento festivo cristalizou de maneira incontestável a funcionalidade do invento do Padre Landell".
81)
Em 2004 Marco Aurélio Cardoso
Moura, com o apoio técnico de Rolf Stephan e Alexandre Stephan, da Industrial
Eletro Mecânica Apex Ltda., fez outra reconstrução, também funcional e também
com o som muito distorcido, recebendo melhor na faixa das ondas médias e em FM. Para Ferrareto, "os
indícios existentes apontam, portanto, para o sucesso de Landell de Moura na
transmissão e recepção de voz mesmo que a qualidade não permitisse a imediata
aplicação prática dos aparelhos criados pelo brasileiro. O aprimoramento destes
em território nacional dependeria de aporte significativo de recursos a partir
de uma consciência a respeito da importância estratégica de tal tecnologia.
Consciência inexistente no Brasil de então". A qualificação e
estabilização do sinal dependeriam de avanços tecnológicos que se fariam pouco
mais tarde, principalmente através de John Ambrose Fleming,
Reginald Fessenden, Edwin Howard Armstrong e
Lee De Forest.
82)
Landell de Moura demonstrou possuir
conhecimentos sobre uma ampla variedade de temas científicos, mas suas referências
são escassamente conhecidas. Enfronhou-se com a Homeopatia, quando esta
corrente terapêutica experimentava uma onda de popularidade no Brasil,
resultando na criação de duas instituições superiores de ensino, uma no Rio de
Janeiro e outra em Porto Alegre. Landell foi convidado em 1914 a lecionar na
recém-fundada Faculdade de Medicina Homeopática do Rio Grande do Sul, onde
daria aulas de Psicologia Experimental
e Antropologia,
mas provou ser um conhecedor da Homeopatia propriamente dita na palestra
inaugural da escola, onde discorreu eruditamente sobre as duas formas de curar,
sintetizadas nos axiomas hipocráticos contraria contrarius curantur (a
cura se faz pelos contrários, que é a base da alopatia) e similia similibus curantur (a
cura se faz pelos semelhantes, que é a base da medicina homeopática).
Entretanto, com a crise interna da Faculdade quase imediatamente após sua fundação,
que desencadeou a formação de duas novas escolas, Landell jamais chegou a dar
suas aulas.
83)
Desenvolveu pesquisas sobre o registro de um campo
energético sutil que circunda os seres vivos, que Landell denominou de
"perianto" e que outros nomeiam "aura".[26] Este
campo energético foi detectado em meados de 1939 por Semyon Davidovich Kirlian, batizando o
chamado efeito Kirlian, que parece ser de fato o mero
registro de descargas de corona causadas pela ionização de
fluidos em proximidade de um condutor eletricamente carregado. A natureza
exata da energia registrada nas imagens ainda é controversa, mas seja qual for,
o trabalho de Landell de Moura neste campo antecede o do russo em muitos anos,
e, diferente dele, não obteve resultados acidentais, sendo fruto de uma busca
deliberada e dirigida. Ele descreveu seus testes da seguinte maneira.
84)
"Todo
o corpo humano está como que envolvido de um elemento de forma vaporosa, mais
ou menos densa, segundo a natureza ou o estado do indivíduo ou ambiente em que
ele se acha. Esse elemento quando adquire uma tensão capaz de vencer obstáculos
que se opõe à sua expansão, escoa do corpo humano sob a forma de descargas
disruptivas ou silenciosas, tal qual sucede com a eletricidade. E os fenômenos
que nestas ocasiões se dão têm muita analogia com os elétricos estáticos e
dinâmicos, com relação aos outros corpos semelhantes. Pelo que cheguei à
conclusão de que se trata de um fenômeno que constitui uma variedade dos
fenômenos produzidos pela eletricidade ou pela causa da eletricidade, do calor,
da luz, etc."
85)
Vânia Maria Abatte, professora do Núcleo de Pesquisas e
Estudos Landell de Moura, estudando os cadernos notas do padre, encontrou uma
descrição das fotografias "Kirlian" que ele obteve da ponta de seus
próprios polegares e de um pequeno animal, indicando que levou o experimento
até o final e teve sucesso, mas não se sabe exatamente que meios desenvolveu
para isso, nem como era o equipamento, e as ditas imagens nunca foram
encontradas. A professora refere ainda que "o que Landell descobriu em
relação ao perianto, ou então energia sutil, é o que quase na totalidade se
sabe atualmente sobre o assunto".
86)
Outras áreas de seu interesse foram a mediunidade, espiritismo, sonambulismo, levitação e hipnotismo e
outras que se encaixam na definição de parapsicologia,
as quais estudava no seu Gabinete de Antropologia Experimental, instalado ao
lado da Igreja do Rosário, mas o que se sabe a respeito é fruto de relatos
pouco objetivos, havendo mais lendas e o registro de alguns fenômenos mal
explicados do que fatos comprovados. No Gabinete também dava consultas
gratuitas a pessoas doentes ou com dificuldades diversas. Entre os casos
relatados está o de um homem que se recusou a ir buscar um remédio para uma
mulher em difícil trabalho de parto, e o padre o teria hipnotizado obrigando-o
a fazê-lo. Era um bom amigo do médico espírita Hernani de Irajá, e com ele
entreteve assíduas conversas sobre filosofia e outros temas. Num desses
encontros, estando ambos em um bonde, teria dito que era possível induzir
outras pessoas à ação pela simples força do pensamento, e para prová-lo disse
que faria uma mulher sentada mais à frente, de costas, virar-se para trás, ato
que ela teria executado após o padre fixar sua atenção por alguns momentos
sobre ela. José Vitorino Panarari de Moura, seu sobrinho, refere ainda que
ele "tinha força magnética e era vidente.
Era capaz de fazer uma pessoa dormir e fazia curas por meio da sugestão”.
87)
Deixou um livro sobre psicologia, Apontamentos de Psychologia (1919),
e um opúsculo sob pesudônimo, Cartas
Inéditas de Bernardus Vallumbrosius a seu discípulo Arsênio, Bispo de Thyrsea (1922),
onde tratava de temas como os tipos de caráter,
a personalidade, os estados anormais, as neuroses,
as paixões, os estigmas e taras de família e
assuntos correlatos, tratando paralelamente de temas filosóficos e
teológicos. Peruzzo diz que o pseudônimo foi adotado para contornar a
censura oficial, e ao mesmo tempo faz referência indireta a Galileu
Galilei, que estudara no monastério de Santa Maria de Vallombrosa.
88)
Landell de Moura viveu em um meio fortemente
influenciado pela Igreja Católica, que até 1891 foi a religião oficial do
Estado, e cuja doutrina orientava grande parte dos valores da população e
determinava suas crenças e hábitos de vida. A ciência em desenvolvimento, junto
com um forte influxo de ideias liberais a partir do trabalho de maçons e positivistas,
entre outros, paulatinamente iam minando os alicerces do catolicismo,
desencadeando algumas vezes reações extremadas dos devotos, como é exemplo o
caso da destruição de seu laboratório por membros da comunidade católica de
Campinas.
89)
Mas havia outros motivos para discórdias. Entrou em
conflito com a comunidade da paróquia do Rosário por tentar substituir a
devoção de Nossa Senhora dos Brasileiros, que não era aprovada regularmente,
pela de Nossa Senhora de Aparecida, e em seus
sermões vergastava os fiéis pelos seus maus hábitos de vida e os confundia
introduzindo conceitos inovadores da ciência. Era contra o celibato dos
sacerdotes, considerando-os homens como os outros. Informa
o professor Rafael Peruzzo que em três oportunidades ele recebeu advertências
de seus superiores para moderar o seu discurso e concentrar-se na doutrina
canônica. Aos devotos, tanto como ao clero, também não agradava que um padre se
envolvesse em assuntos como o espiritismo, a paranormalidade e a psicologia, e
que parecia blasfemar ao dizer que seus inventos podiam estabelecer a
comunicação com outros planetas. Lochte cita um episódio em que fez uma
demonstração de um telefone sem fio para o bispo de São Paulo em meados de
1890, e o prelado teria ficado tão perturbado com as "vozes que vinham de
nenhum lugar" que teria qualificado o aparelho como obra do demônio e
proibido o padre de continuar seus experimentos. Ernani Aguiar, por seu turno,
diz que quando estava nos Estados Unidos foi proibido de oficiar missas.[11] Um
de seus coroinhas, Benedicto Olegario Berti, afirmou que o padre levava aonde
quer que fosse uma caixinha preta de 10 cm de altura, com a qual falava
baixinho e aparentemente era respondido. Provavelmente tratava-se de seus
experimentos com a comunicação sem fio, mas diz o coroinha que até durante as
missas a tal caixinha estava presente, sendo colocada ao lado do cálice da
consagração, e o padre chegava a interromper a cerimônia para atender a
"chamados" vindos da caixa, e por isso o chamavam de louco ou diziam
que tinha um pacto com o demônio.[34] Outros
relatos de época alegam que chegou a fazer demonstrações de levitação dentro da
Igreja e mesmo durante missas, que teria tentado monitorar cientificamente um exorcismo e
que falava com os mortos através de seus aparelhos. Naturalmente, eram atos e
posturas que chocavam os hábitos da época e punham a comunidade católica em
alvoroço. No entanto, dizia-se também que estabelecera uma recompensa de
um conto de réis para quem provasse a atuação
de espíritos sobre a matéria e que considerava o espiritismo uma manifestação
do mal, e as polêmicas se multiplicavam. A situação se tornou crítica e em
vista disso recebeu ordem para encerrar as atividades do seu Gabinete de
Antropologia Experimental.
90)
Mas a Igreja nem sempre se mostrou avessa a inovações,
tolerou por muito tempo suas "excentricidades", atribuiu-lhe posições
de responsabilidade e permitiu que o padre fizesse sua viagem pela Europa e
Estados Unidos a fim de demonstrar suas invenções, mas parece claro que seu
diálogo com seus pares e correligionários foi muitas vezes tumultuado e tenso,
apesar de não ser este o seu desejo, fazendo suas pesquisas para engrandecer a
ciência e colocar o nome da Pátria "na ampla e ilimitada esfera dos
modernos cometimentos científicos", mas também para abolir superstições e
iluminar a fé, e não para derrubá-la. Uma de suas declarações é expressiva:
91)
“Desejo
mostrar ao mundo que a Igreja Católica não é uma inimiga da ciência e do
progresso humano. Indivíduos da Igreja podem num ou noutro caso ter se oposto à
luz, mas fizeram-no na sua cegueira pela verdade católica. Eu próprio já
deparei com grande oposição dos meus companheiros de fé. No Brasil, um
populacho supersticioso, afirmando que eu tinha partes com o diabo, invadiu o
meu gabinete e destruiu o meu aparelho. Quase todos os meus amigos de educação
e camaradas intelectuais, seculares e leigos indiferentemente, consideravam as
minhas teorias contrárias à ciência. Sei bem o que é sentir como Galileu e
exclamar como ele: E pur si muove.
Quando todos eram contra mim, eu contentava-me em conservar-me no meu terreno,
e dizia: É assim; não pode ser de outro modo".
92)
Hoje as antigas controvérsias parecem estar superadas.
Casonatto, em monografia apresentada no curso de Teologia da Pontifícia
Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), declara que
"permanece hoje seu testemunho que a ciência não está contra os dados da
religião e da fé, mas ambas se completam. Numa época em que a Teologia estava
conturbada pelos avanços da ciência e sem respostas para muitas interrogações,
Pe. Landell já tinha uma resposta. Ele tentou conciliar a ciência e a religião
embora por causa disto sofresse ataques durante toda a sua vida".[4] Dom Dadeus Grings,
arcebispo de Porto Alegre, notou que "Landell de Moura teve uma
inspiração, que deixou surpresas as pessoas de seu tempo. Houve até
incompreensões. Parecia fora de época", mas louvou sua contribuição para o
progresso da ciência mundial e brasileira, salientando ainda a utilidade do
rádio como instrumento de educação, diversão e aproximação entre as pessoas, e
também como veículo de evangelização, possibilitando levar com
facilidade a mensagem de Cristo aos quatro cantos da Terra, e concluiu dizendo:
"Sentimo-nos felizes e orgulhosos por tê-lo em nosso meio, integrante dos
cidadãos e do clero da Arquidiocese de Porto Alegre. Deus lhe pague por todo
bem que fez pela Igreja e pela Humanidade!". Em 2013, na missa
realizada em São Paulo comemorando os 85 anos de sua morte, foi ainda mais
enfático o teor da homilia proferida pelo cônego Antonio Aparecido Pereira,
vigário episcopal para as Comunicações da Arquidiocese de São Paulo, o qual, falando
em nome do cardeal arcebispo de São Paulo dom Odilo Pedro Scherer, reconheceu publicamente o
erro da Igreja e da sociedade brasileira ao negarem-lhe em vida o merecido
reconhecimento, pedindo por isso perdão a Deus e ao próprio padre Landell.
93)
Landell de Moura obteve um
reconhecimento limitado nos Estados Unidos ainda em vida, e entre 1909 e 1922 o
irlandês J. C. Oakenfull escreveu livros que foram editados com boa repercussão
na Grã-Bretanha, Estados Unidos, Bélgica, Canadá, França, Suíça, Portugal,
Austrália, Nova Zelândia, Índia e China, referindo-se a ele como o inventor do
rádio, mas depois caiu em um grande esquecimento. Nos anos recentes diversos
artigos e outras publicações internacionais já lhe fazem referência aceitando
seu pioneirismo absoluto na transmissão de som sem fio através das ondas de
rádio, é reconhecido como tal em inúmeros websites populares de vários países e
foi incluído como o pioneiro na Sala da Fama do website Microwaves101,
publicado em associação com a IEEE Microwave Theory and Techniques Society e
o Institute of
Electrical and Electronics Engineers, a maior organização
profissional do mundo, mas fora do Brasil em geral continua bastante
desconhecido ou subestimado.
94)
Santos, descrevendo a controvérsia
que existe, diz que Landell é frequentemente comparado com Marconi como se seus
inventos fossem semelhantes, quando de fato não eram. Landell trabalhou com as
ondas de rádio e as ondas de luz para transmitir sinais elétricos e som, ao
passo que Marconi, em seu trabalho inicial, aquele que se tornou famoso, usava
apenas as ondas de rádio e apenas para transmitir sinais elétricos, criando um
telégrafo sem fio. Outro problema para Landell é que a transmissão de som sem
fio através da luz havia sido inventada por Graham Bell antes dele e a invenção
da telefonia sem fio através de ondas de rádio permanece envolta na disputa com
Reginald Fessenden, já que a massa da bibliografia internacional não aceita o
experimento de Landell de 3 de junho de 1900, aceitando em vez o de Fessenden,
que ocorreu seis meses depois. O historiador Heródoto Barbeiro, porém,
recusa-lhe o título de "pai do rádio" que usualmente é-lhe atribuído
no Brasil, alertando para o fato que o rádio como hoje o conhecemos foi o
resultado de um processo continuado que não nasceu com Landell nem terminou com
ele, recebendo a contribuição de muitos cientistas, dizendo que pode ser
difícil definir em que ponto o rádio nasceu efetivamente. À parte a
questão da primazia internacional, para a história das telecomunicações
brasileiras sua contribuição precursora tem um valor incontestável.
95)
Mesmo sendo reais a circunstância
de ter trabalhado na maior parte do tempo sozinho, as resistências que
encontrou nos meios oficiais para o apoio de suas pesquisas e a ocasional
oposição das comunidades católicas, Santos também observou que existe uma
tendência à mitificação do personagem mesmo na bibliografia acadêmica, que
muitas vezes magnifica exageradamente os seus infortúnios e seu destino de
vítima do seu contexto, mostrando-o como "desprovido de qualquer tipo de
ambição material, de porte físico fragilizado, altruísta, estigmatizado como
louco, perseguido por fiéis da Igreja e que, apesar da falta de apoio
governamental e da Igreja Católica, conseguiu realizar experimentos importantes
para a humanidade". O próprio cientista rejeitou oportunidades de
divulgar e comercializar seus inventos e estava consciente dos obstáculos
que sempre se levantam para aqueles que desbravam novos campos do conhecimento,
dizendo:
96)
"É óbvio que aqueles que não
compreendam bem uma razão científica não possam enquadrá-la em seu justo
mérito, nem tampouco aplaudir-me e ajudar-me com recursos para prosseguir no
estudo e no trabalho. Com certeza, supõem que vivo sonhando entre utopias
científicas de utilidade aparente. [...] Bem sei que, em coisas de ciência, o
que avança em relação à sua época, não deve esperar justiça dos contemporâneos.
[...] O que desejo é que o fruto de meus estudos se traduza em proveito e
glória de minha Pátria, e em holocausto ao Deus Supremo, que me inspira em minhas
investigações e me ilumina com suas divinas luzes para penetrar e ordenar, à
minha maneira, esses fatores interessantíssimos da Criação, que nos ligam aos
outros planetas, estabelecendo comunicação entre as esferas mais remotas e as
entranhas da terra que pisamos. Só por isso, dou-me por bem recompensado das
pesadas vigílias e das infinitas penúrias que me custam as invenções".
97)
Por outro lado, em que pesem suas
dificuldades, em seu país ele nunca foi inteiramente esquecido. Mesmo antes de
falecer conseguiu reunir um pequeno círculo de admiradores e recebeu algum
apoio da Igreja, embora limitado, e em 1910 a antiga Repartição Geral dos
Telégrafos começou organizar a primeira rede radiotelegráfica por
centelhamento, fundando oito estações que em seu conjunto cobriam todo o
litoral do país. Seu reconhecimento em maior escala começou logo após sua
morte. Em 1933 um artigo de página inteira no Jornal da Manhã o saudava como o inventor do telefone sem
fio e lhe tecia grandes elogios, procurando restituir-lhe "a glória que
lhe negaram em vida". Depois muitas outras homenagens se sucederam.
Seu nome batizou uma escola, uma praça, a Fundação Educacional e Cultural
Padre Landell de Moura, uma rua
e o 1° Centro de Telemática de Área do Exército Brasileiro, todos em Porto
Alegre. Em 2011, quando foi celebrado o sesquicentenário de seu nascimento, que
ocorreu com comemorações em vários pontos do Brasil, a Prefeitura da cidade o
declarou Patrono da Ciência, da Tecnologia e da Inovação no Município, 2011 foi
declarado pelo Município como Ano
da Inovação Padre Landell de Moura e no mesmo ano foi instituída
a Semana Padre Landell de Moura,
a ser comemorada anualmente de 24 a 30 de setembro.
98)
É o patrono também de um colégio
em Bento Gonçalves; de uma praça em Piracicaba; do Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento em Telecomunicações em
Campinas; dos radioamadores brasileiros, que criaram a Medalha Roberto Landell de Moura para
homenagear cidadãos e entidades nacionais ou estrangeiras por méritos e
serviços relevantes prestados à Liga de Amadores Brasileiros de Rádio Emissão (LABRE); do Prêmio
Landell de Moura, instituído pela Diocese de Santa Maria e
concedido a pessoa ou empresa que se destacar na promoção e defesa dos valores
humanos e cristãos, bem como na educação comunitária; do Prêmio Pe. Roberto Landell de Moura,
criado pela Sociedade Brasileira de Microeletrônica com os objetivos de reverenciar sua memória e estimular a pesquisa
e a inovação na área de microeletrônica; da Semana Padre Landell de Moura, instituída pelo governo do Rio
Grande do Sul, comemorada de 24 a 30 de setembro de cada ano, e da Semana Padre Roberto Landell de Moura,
instituída pelo governo de São Paulo, a ser comemorada todos os anos de 5 a 11
de novembro.
99)
Foi distinguido com a cidadania honorária da
cidade de São Paulo, e tem bustos no Belvedere Deputado Rui Ramos, em Porto
Alegre, e na sede da LABRE em Tatuapé (primeiramente instalado sob o vão
do MASP na
capital paulista). Foi-lhe erguido um monumento diante da Basílica de Nossa Senhora
Medianeira em Santa Maria, os Correios do Brasilemitiram
um selo em sua homenagem em 2011, e foi biografado por Ernani
Fornari, Ivan Dorneles Rodrigues e Hamilton Almeida. Em 2012 a
Prefeitura de Porto Alegre e a Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande
do Sul publicaram em conjunto um substancioso festschrift dedicado a Landell de Moura, que inclui o primeiro levantamento da
bibliografia impressa produzida a seu respeito ou que lhe dá algum espaço,
apontando cerca de cem títulos, entre biografias, artigos, teses, reportagens e
outros, mas não incluiu a bibliografia online e novos títulos continuam
aparecendo. Seu legado é preservado e divulgado principalmente pelo
Memorial Landell de Moura e pelo Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Sul,
situados em Porto Alegre. O Movimento Landell de Moura, que trabalha para
promover o seu reconhecimento em larga escala, obteve importante vitória em 27
de abril de 2012, quando a Presidência da República sancionou a Lei nº 12.614, que determinou a
inscrição do seu nome no Livro
dos Heróis da Pátria, depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, em Brasília. O Movimento também almeja que o governo brasileiro reivindique
internacionalmente o pioneirismo de Landell de Moura na invenção do rádio. Apesar dessas múltiplas homenagens, é opinião de muitos estudiosos
que mesmo no Brasil ele não é conhecido como mereceria. Para remediar esta
situação, em 2013 foi entregue ao ministro da Educação, Aloízio Mercadante, um
abaixo-assinado e um dossiê solicitando a inclusão do estudo da sua vida e obra
no currículo regular das escolas nacionais.
100)
O estudo do seu legado é
dificultado por vários fatores. Não sobreviveu nenhum dos seus aparelhos, e a
documentação original que resta, embora volumosa, compondo 230 documentos entre
livros de notas científicas, esquemas técnicos, cartas e outros papéis, com um
total de 4.470 páginas, depositada em seu grosso no Instituto Histórico e
Geográfico do Rio Grande do Sul (IHGRGS), nem sempre é clara o bastante para
permitir um perfeito entendimento de suas intenções, métodos, materiais e
procedimentos técnicos usados, e mesmo de seus resultados. Além disso, esta
documentação é de difícil acesso. A maior parte dela se encontra escrita em uma
intrincada mistura de latim,
português e inglês, pouco foi transcrito e explorado, e parte da coleção
original encontrada após sua morte pode ter sido perdida. Guerra Lima
também afirmou que "sob pretexto de que é uma instituição privada, [o
IHGRGS] não permite acesso aos originais nem a cópias fieis dos trabalhos do
cientista. O IHGRGS produziu um CD com as patentes e algumas histórias sobre o
Padre Landell que não são a expressão do seu trabalho, mas sim o entendimento
de alguns dos seus funcionários". Desta forma, apenas uma fração do
seu pensamento e suas pesquisas são conhecidos. Dos seus objetos pessoais
também pouco chegou aos dias de hoje: uma batina, uma mesa de trabalho, um confessionário e alguns outros itens. Em janeiro de 2015 o Movimento Landell de
Moura iniciou um abaixo-assinado virtual para que o Ministério da Educação do Brasil inclua a biografia de Landell no currículo do ensino
básico no Brasil.
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