WALTER CLARK
1)
Walter
Clark Bueno (São Paulo, 14 de julho de 1936 — Rio
de Janeiro, 24 de março de 1997) foi um
importante produtor e executivoda televisão brasileira.
2)
Walter Clark Bueno e sua irmã mais nova, Lilian Clark Bueno,
eram filhos de Milton Nascimento Bueno, técnico em eletrônica, e de Lúcia
Clark, dona de casa.
3)
A família morava em São
Paulo, mas, quando Walter tinha seis anos, se mudou para o Rio
de Janeiro.
4)
Com 16 de idade, começou a trabalhar na Rádio Tamoio, de Assis
Chateaubriand, como auxiliar e secretário do radialista Luís Quirino.
6)
Em setembro de 1956, contratado pela TV
Rio para o cargo de assessor comercial, iniciou sua
carreira na televisão.
7)
Na TV Rio, desempenhou diversas funções chegando ao cargo de
principal executivo da antiga emissora, de onde só saiu quase dez anos mais
tarde, em dezembro de 1965, para assumir a
direção da TV
Globo.
8)
Contratado por Roberto Marinho, tornou-se primeiro
diretor-executivo, depois diretor-geral da TV Globo com o objetivo de
reestruturar o setor comercial e, sobretudo, reformular a programação.
9)
A TV Globo havia sido inaugurada oito meses antes, em abril
de 1965. Até aquele momento, a emissora apresentava modestos pontos de
audiência no Rio de Janeiro, ficando atrás da própria TV Rio, da TV Excelsior e da TV
Tupi.
10)
Já em fevereiro de 1966, foi iniciada a virada da TV Globo.
11)
Por determinação dele, a emissora interrompeu sua programação
durante três dias para realizar a cobertura completa das enchentes que então
atingiram a cidade do Rio de Janeiro. Graças a uma campanha de assistência à
população desabrigada, batizada SOS
Globo, a TV Globo, que já vinha apresentando sensíveis melhoras nos seus
índices de audiência, ganhou definitivamente a simpatia do público carioca.
12)
Em março de 1967, foi o responsável
pela contratação de José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho, o Boni, para o cargo de superintendente de produção e
programação.
13)
Eles já haviam trabalhado junto na TV Rio.
14)
Boni o ajudaria a implantar o modelo de programação que levou
a TV Globo ao posto de líder de audiência no país e, juntos, trouxeram para a
emissora a noção de continuidade.
15)
Foi deles a ideia de levar ao ar um programa jornalístico intercalado
entre duas novelas, na faixa de
programação considerada o horário nobre, o Jornal Nacional, que foi idealizado
por Armando
Nogueira, também convidado por Walter para ir para a TV Globo e que
se tornou diretor de jornalismo após um mês na emissora.
16)
Também foi obra dos executivos a estruturação do núcleo de
novelas da TV Globo.
17)
Coube a dupla a criação de diversos programas de grande
sucesso, como o "Fantástico", em 1973, e o "Globo Repórter", também em
1973, entre outros.
18)
Walter privilegiou, ainda, a linha de shows da emissora,
valorizando eventos como o "Festival
Internacional da Canção" (1967), cujas edições eram transmitidas ao vivo do
ginásio do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro,
e criando programas como o "Globo
de Ouro" (1966), baseado em "Astros do Disco", um
antigo sucesso da TV Rio.
19)
“Walter Clark foi um extraordinário profissional. Foi meu
grande parceiro no sonho de fazer uma televisão
brasileira de qualidade. Tentamos juntos na TV Rio. Eu tentei com
o apoio de Cassiano
Gabus Mendes no telecentro da TV Tupi. Depois o Walter me convidou
para uma nova tentativa. Foi o Walter que me trouxe para a Globo. Com o Walter,
o Joe Wallach e um grupo de excelentes profissionais conseguimos realizar boa
parte do nosso objetivo. Sempre tive admiração pela capacidade do Walter em
perceber o futuro da televisão como uma realidade muito próxima e correr para
atingi-lo rapidamente”. Disse certa vez o Boni.
20)
Deixou a TV Globo em maio de 1977 após a intervenção direta
de Roberto
Marinho, a época diretor-presidente das Organizações
Globo e responsável pela contratação de Walter Clark.
21)
O salário mensal de Walter foi estimado à época em 1,5
milhão de cruzeiros e,
após sua saída, iniciou-se uma disputa interna entre José Ulises Arce
(superintendente de Comercialização), Joseph Wallach (superintendente
de Administração) e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, que chefiava
três setores vitais (Programação, Produção e Engenharia) para ocupar seu cargo
na direção-geral da emissora. Boni saiu vencedor.
22)
O
salário mensal de Walter Clark na época era o
mais alto do mundo segundo o jornal americano “The New York Times”.
23)
Walter Clark tinha se entregado ao alcoolismo porque
já não tinha objetivos na Rede Globo.
24)
Depois que a emissora passou a funcionar e atingiu uma
posição de liderança, tornou-se uma figura quase decorativa, atuando como relações
públicas da empresa, fazendo apenas política. Se por um lado
essa situação desagradava Clark, por outro lhe permitia um alto padrão de vida: adquiriu carros
importados (um Mercedes-Benz e uma Ferrari); uma cobertura duplex
na lagoa
Rodrigo de Freitas (com 1 200 metros quadrados); uma lancha de 37 pés
("Cinderela" - que era considerada um imóvel, não um barco); uma casa em Angra dos Reis, com praia
particular; outra casa em Itaipava.
25)
Em seu apartamento, encontravam-se móveis coloniais,
poltronas modernas, porcelana
chinesa, pequenas esculturas
egípcias em ferro, estátuas de budas autênticos,
bichos javaneses, tapetes persas, elefantes em louça
da Índia. Nas paredes,
quadros de Manabu
Mabe, Di Cavalcanti, Tarsila do Amaral, Cândido
Portinari, João
Câmara Filho, Djanira
da Motta e Silva, além de quatro reproduções de Victor Vasarely assinadas.
A riqueza
finalmente chegou.
26)
Entretanto o momento político do país exigia austeridade e os
jornais estavam atentos como os gastos do governo com as mordomias, somado às
constantes notícias de sua presença nos mais caros restaurantes e boates,
desagradava Roberto Marinho, já incomodado com o prestígio e a popularidade
dele, que, por seu trabalho tinha seu nome mais ligado à Rede Globo que o
próprio proprietário.
27)
Por esses e outros fatos (e algum folclore), nos seis meses
anteriores a saída, tanto Marinho quanto Clark já sabiam que o relacionamento
profissional entre eles caminhava para um desenlace, oficializado na tarde do
sábado, 28 de maio, por duas cartas com elogios mútuos, uma assinada por Clark
e outra por Marinho.
28)
Se, comentava, que teriam sido escritas por uma mesma
pessoa, Otto Lara Resende, também diretor da
Globo.
29)
Pedi para sair e, afinal, o Roberto concordou. Essa decisão
já vinha sendo amadurecida há cerca de um ano. Nos últimos meses, os entendimentos
começaram a ser estabelecidos no sentido de se estudar uma maneira pela qual eu
pudesse ser dispensado da Globo. Finalmente agora tudo terminou da forma mais
elegante possível para todos os lados, sem ressentimentos, sem rancores.
30)
Afastado da televisão, teve uma breve carreira como produtor
de cinema, produzindo alguns clássicos como "Bye Bye Brasil" (1979), de Cacá Diegues, e "Eu Te Amo" (1980), de Arnaldo Jabor, cujas sequências
foram filmadas no interior do apartamento do próprio Walter Clark. Também
tiveram sua produção – em associação com Luiz
Carlos Barreto – os filmes "A Estrela Sobe" (1974), de Bruno Barreto, "Guerra Conjugal" (1975), de Joaquim
Pedro de Andrade, e "O
Crime do Zé Bigorna" (1977), de Anselmo Duarte e Lauro
César Muniz.
31)
Voltou a trabalhar na televisão, em 1981, como diretor-geral
da Rede
Bandeirantes, cargo que ocuparia até o ano seguinte.
32)
Em 1988, trabalhou novamente na TV Rio, e escreveu –
com o jornalista Gabriel Priolli – sua
autobiografia, "O Campeão de Audiência", publicada em 1991.
33)
Entre 1991 e 1992, presidiu a Fundação
Roquete Pinto, depois de ter sido vice-presidente do Clube
de Regatas do Flamengo.
34)
Walter
Clark também teve vida amorosa agitada. Casou-se quatro vezes, tendo cinco
filhos, um de cada mulher.
35)
Namorou,
entre outras, Dina Sfat e Sônia Braga. Era figura galante e conhecido nas
noites cariocas.
36)
A
vida, porém, na "Deusa Platinada", nome que deram à emissora nessa
época, era muito agitada.
37)
Muitas
responsabilidades, levaram-no a muita bebida também. E ele acabou por se indispor
com os donos da emissora.
38)
Pai de Luciana (com Ilka Soares), Eduarda (com Maria do
Rosário Nascimento e Silva), Fernando (com Fernanda Bruni), Amanda (com
Rossana) e Flávia.
39)
Padrão Globo de
Qualidade é o conjunto de regras, implícitas e explícitas, que
norteiam as operações da Rede
Globo de Televisão,
40)
Foi implementada a partir do know-how repassado à
emissora através de um acordo com a Time-Life na década de 1960. Aplica-se
especialmente ao que o regulamento tem de ideológico, rigoroso e
claramente distinto das práticas de outras emissoras de televisão.
41)
Esse padrão de produção agregou, desde o início da TV Globo,
um grupo de profissionais de produção capazes de criar uma imagem específica
para a emissora, que acabou por se tornar um modelo almejado por todas as suas
concorrentes.
42)
Foi Walter Clark que adaptou a qualidade americana de se
fazer televisão para o gosto do telespectador brasileiro.
44)
Com isso chegou ao Brasil uma nova
maneira de se fazer televisão, mais centrada em um modelo empresarial, cujo
foco era a parte comercial e produtiva.
45)
A associação entre Rede Glbo e Time-Life representou
também grandes avanços em termos técnicos e tecnológicos pois, além de receber
um gerenciamento direto, a parceria resultou no treinamento de funcionários
nos Estados
Unidos e a importação de um modelo já consolidado na televisão
americana.
47)
A ele são atribuídas, direta ou indiretamente, diversas
inovações introduzidas pela Globo, como a ideia da telenovela como âncora da
programação, a idealização do Jornal
Nacional e sua disposição entre duas novelas, a projeção de um
canal voltado a uma rede de alcance nacional e a subordinação de emissoras
afiliadas e de repetição à central no Rio de Janeiro.
48)
A ênfase no "horário nobre" (das 18 às 22 horas),
com a exibição de jornalísticos e, principalmente, telenovelas, foi inclusive o
principal trunfo da rede na luta pela audiência e a verdadeira marca do sucesso
da Globo.
49)
O "horário nobre" foi criado de forma tímida pela
Rede Excelsior.
50)
A inovação que deu mais sustenção ao padrão de qualidade, no
entanto, foi a comercial.
51)
Sob o comando de Clark, chegou ao fim o modelo de
patrocinador único, que concedia a este a responsabilidade por determinados
programas, passando a vigorar uma forma de venda que privilegiava a programação
fixa e voltava-se para a negociação de espaços de publicidade em intervalos
comerciais. Dessa forma a emissora ganhou maior lucratividade e,
consequentemente, mais autonomia no desenvolvimento de sua grade de
programação.
52)
Investindo em programas populares e evitando o confronto
direto com outras emissoras, em seus primeiros anos a Globo foi conquistando
aos poucos seu espaço na TV.
53)
Sua hegemonia na área é confirmada na década de 1970 com o
ostracismo das concorrentes TV Excelsior e Tupi.
54)
O salto em qualidade desta época é auxiliado pela
incorporação de técnicas e profissionais do cinema, e um quadro de
funcionários advindos do teatro, literatura e cinema, formando
parte do padrão de qualidade que auxiliou posteriormente no contínuo
desenvolvimento da emissora.
55)
Uma intervenção governamental no começo dos anos 70, cujo
objetivo era acabar com o "baixo nível cultural" das emissoras, levou
a Globo a eliminar de sua grade traços de "mau gosto" e
"popularesco", o que acabou por elevar o perfil de produção a um
nível mais ao gosto do público de classe média.
56)
Junto à produção e gerencimanento eficiente, ao forte
esquema comercial, aos conhecimentos e tecnologia importados, e uma proposta
estética limpa de ruídos estéticos e políticos, esse foi um dos elementos
primordiais para a construção do padrão Globo de qualidade.
57)
O sucesso perdura durante a década de 1980 mesmo com o
surgimento de novos canais de destaque, como SBT e TV Manchete; a resposta da
Globo é a ampliação e criação de novos parques industriais televisivos e a
exportação de sua programação para mercados internacionais. Na década de 1990 as inovações
tecnológicas acirram ainda mais a concorrência, enquanto a emissora inaugura no
Rio de Janeiro o Projac e estabelece
em São Paulo novos estúdios jornalísticos, dividindo entre os dois estados sua
produção de ficção e jornalismo.
58)
Clark referia-se à suposta independência do
dono da Globo (Roberto Marinho) por “manter em torno de si homens de esquerda
em cargos importantes”.
59)
Além da pretensa altivez de Roberto Marinho,
impressionaram Clark a “integridade”, a “honestidade” e o “patriotismo” do
general Garrastazu Médici, que depois de 1974 passara a frequentar seu gabinete
na Globo para ver futebol aos domingos. Muita gente apanhava e morria nos
cárceres da ditadura, mas para ele isso não podia, de forma alguma, ser coisa
do ditador Médici: “Tenho a impressão de que ele não se envolveu com nenhum
excesso, nenhuma violência do regime”.
60)
Armando Nogueira (diretor de Jornalismo) e
ele tomavam “muito cuidado” para não trombar “com o regime militar nem com
Roberto Marinho”.
61)
Não é preciso inteligência privilegiada para perceber que o jogo de
cumplicidade com o regime confundia-se com a luta interna pelo poder dentro da
Globo, arbitrada por Marinho e envolvendo não apenas Clark e Boni, mas também o
segundo escalão: Joe Wallach, que representava o Grupo Time Life
62)
Walter
Clark nega que o motivo de sua
saída tenha sido, como se propalou na época, seu comportamento pessoal pouco
ortodoxo (em razão de excessos alcoólicos) numa festinha com poderosos de
Brasília.
63)
A prisão do próprio Clark pelo Dops no dia
do Ato 5, por ordem do tttcoronel Luís França, em represália por ter ele
discutido com o motorista do militar num incidente de trânsito.
64)
A especialidade da Globo era acomodar-se a
cada situação. A acomodação prevaleceu ainda no dia da queda de Clark. Ele
aceitou sem discutir o prêmio de consolação (US$2 milhões) oferecido por
Marinho.
65)
Walter Clark assumiu compulsivamente a
responsabilidade pelas iniciativas bem-sucedidas da Globo, declarou-se adepto
de programas de qualidade mas, o salto de audiência veio com os popularescos de
baixo nível, de Raul Longras, Chacrinha, Dercy Gonçalves etc.
66)
"Fui
eu quem criou a estrutura de grade de programação, assim como fui quem sempre
lutou para fazer TV em rede no Brasil."
67)
"Jamais
neguei, e não o faço agora, a importância de Boni no crescimento da Globo e na
história da própria televisão brasileira.”
68)
“Sei que existe uma televisão pré-Walter Clark e outra
pós, eminentemente marcada pelo meu trabalho. Não se trata de arrogância, mas
de consciência.”
69)
O advogado de Clark, Luís Eugênio Müller, disse que o amigo
estava dedicado ao projeto de filmar a vida do compositor Antônio Carlos Jobim,
morto em 1994.
70)
Clark escreveu uma autobiografia -''O Campeão de Audiência''.
71)
Roberto Marinho, presidente das
Organizações Globo, na época disse: ''Walter Clark teve grande participação na
primeira década de crescimento da TV Globo. Sua criatividade e sua
sensibilidade contribuíram bastante para o êxito então alcançado, pois ocupou
posição de decisiva relevância na empresa. É uma lástima que desapareça tão
prematuramente e todos nós, antigos companheiros, muito deploramos a sua
morte''.
72)
José Bonifácio de
Oliveira Sobrinho, o Boni, vice-presidente de Operações da TV Globo: ''Walter
Clark foi um extraordinário profissional. Foi meu grande parceiro no sonho de
fazer uma televisão brasileira de qualidade. Tentamos juntos na TV Rio. Eu
tentei com o apoio de Cassiano Gabus Mendes no Telecentro da TV Tupi. Depois o
Walter me convidou para uma nova tentativa. Foi o Walter que me trouxe para a
Globo. Com o Walter, o Joe Wallach e um grupo de excelentes profissionais
conseguimos realizar boa parte do nosso objetivo. Sempre tive admiração pela
capacidade do Walter em perceber o futuro da televisão como uma realidade muito
próxima e correr para atingi-lo rapidamente.''
73)
Dias Gomes, 74, dramaturgo e
membro da Academia Brasileira de Letras: ''A TV Globo foi sem dúvida o mais bem
sucedido empreendimento de Walter Clark. Lá, seu maior mérito foi saber
escolher a equipe que formou a quarta maior rede de televisão do mundo. Eu fui
contratado por ele, em 1969, assim como Janete Clair, Walter Avancini, Daniel
Filho, Boni e muitos outros que ajudaram a criar a TV Globo da maneira que ela
é hoje. Ele foi um presidente que soube escolher seus ministros de tal maneira
que, quando saiu, a TV continuou seu progresso, sem quedas, pelo menos até o
final dos anos 80, quando ele começou a acusar a emissora de estagnação.''
74)
“O
curioso nesta história é que o Armando Nogueira, que hoje aparece como criador
do Jornal Nacional, foi quem mais resistiu a ele. O JN não teve propriamente um
autor, um gênio que teve o estalo. Nasceu de muitas discussões de todos. (Walter
Clark).
75)
“Outra
balela que existe sobre a televisão brasileira é a que atribui a criação da
grade a uma emissora ou a alguma pessoa. Nada disso. A grade existe desde que a
televisão norte-americana entrou no ar e, no Brasil, nos anos 1940, não havia
emissora de rádio que não tivesse a sua grade”. (Boni).
76)
“Convoquei
todas as centrais sob minha responsabilidade e começamos a nos preparar para
voltar ao ar, direto do Rio. Enquanto isso, o Walter Clark fazia show para a
mídia, comandando o resgate do acervo de fitas de videotape (…) O dr. Roberto
Marinho quis saber como havia ocorrido aquele milagre e me pediu um relatório,
que fiz com cópia para o Walter Clark e o Joe Wallach. O Walter, que não
participou da operação e nem tomou conhecimento dela, não gostou O incêndio foi
um marco em nosso relacionamento” (Boni).
77)
“Em
1977, dez anos após eu ter chegado à Globo, o Walter foi demitido pelo dr.
Roberto, repentinamente. O dr. Roberto vinha cismando com o comportamento dele
dentfora da empresa, principalmente em relação ao abuso de álcool e Para mim,
ele foi vítima de um temperamento extremamente sensível e de uma vaidade sem
limites que o levaram ao alcoolismo. (…) Não tive nada a ver com a saída do
Walter. (…) Quando foi formalizada a demissão, o desagradável foi Quando foi
formalizada a demissão, o desagradável foi que o Walter esperava que eu saísse
com ele, mas eu não podia fazer isso, pois, nesse período, já havia
estabelecido uma parceria intensa com o Joe Wallach e estava comprometido com
todos os companheiros que tirei das outras emissoras e trouxe para a Globo. (…)
O que eu poderia tentar era segurar a demissão do Walter, e eu tentei.” (Boni).
78)
A
família de Walter Clark, ex-executivo da Globo, proibiu a emissora de citar o nome
do empresário na minissérie Dercy de Verdade.
79)
Walert
Clark namorou: a atriz Regina Rosemburgo (1967); com a modelo Fernanda Bruni
(1976), um filho: Fernando; com a atriz Sílvia Bandeira (1977); com a atriz
Betty Faria (1978); com a atriz Sônia Braga (1978-1979); com a atriz Sandra
Barsotti (1980-1981); com a atriz Sandra Bréa (1981); com a atriz Rejane
Medeiros (1981); com a atriz Alcione Mazzeo (1981); e com a atriz Dina Sfat
(1981-1982). Foi casado uma primeira vez (1959-1962), uma filha: Flávia; com a
atriz Ilka Soares (1963-1970), uma filha: Luciana; com a atriz Maria do Rosário
Nascimento e Silva (1974-1976), uma filha: Eduarda; e com Rossana Clark
(1990-1992), uma filha: Amanda. Namorava com a artista plástica Eleonora
(1996-1997).
80)
Sofria
de alcoolismo e era dependente de drogas.
81)
Walter Clark era a estrela da companhia.
82)
Walter Clark fez a Rede Globo.
83)
Foi ele quem concebeu a tevê como uma rede e tirou proveito
da conexão genética entre a Globo e o regime militar: o regime precisava de uma
rede nacional de tevê e a Globo precisava de uma rede nacional de comunicação
para vender anuncio.
84)
Aparecia muito. Gostava de festa. E de mulher bonita, como
Ilka Soares.
85)
O negócio dele era o trabalho.
86)
"Eu passei todo o poder da área de produção para o
Boni", declarou Walter, "porque eu era diretor geral da Globo, eu não
era um homem de programação, de vendas, de administração. Eu era o arrumador
geral daquela encrenca, especialmente num período de obscurantismo que houve
nesse país, em que a censura era violenta, em que as pressões eram terríveis.
Então, quem decidia sobre programação era o Boni. e como ele é um sujeito de
bom coração, quando ele queria botar alguém na rua ele dizia que era eu que
estava botando", contou Clark.
87)
"Foi um processo de apodrecimento, quer dizer, eu não
tinha mais para onde ir na Globo", explicou Walter. "Eu era
pressionado pelos caras de baixo, da minha equipe, e o Roberto Marinho tinha
ciúme de mim porque eu aparecia muito! E era mais ou menos natural que eu
aparecesse muito: eu era um sujeito que dirigia o maior centro de 'show
business' do Brasil, da América Latina. Então eu era capa de revista, eu dava
entrevista...e o Roberto (Marinho) se incomodava com isso! Chegou num ponto que
eu não tinha mais lugar", concluiu Clark.
88)
"O que sobrou de você na Bandeirantes?", quis saber
um telespectador. Walter veio morar em São Paulo depois que deixou a Globo e
foi contratado pela Band. "Eu!", respondeu com uma certa ironia o
executivo de televisão. "Eu acho que conseguir ter sobrevivido à
Bandeirantes foi uma tarefa bastante gloriosa", acrescentou Walter. E
argumentou o seu ponto de vista: "Eu tentei imprimir um espírito à
Bandeirantes e criar uma estação de alternativas. Porque você não consegue, em
termos de apelação, fazer uma televisão pior do que a TVS (atual SBT) – e nem
consegue fazer, em termos de produção, qualidade e acabamento, melhor do que a
Globo".
89)
"São Paulo ainda tem aqui a nossa querida TV Cultura que
faz uma televisão que corre numa faixa própria. A minha ideia na Bandeirantes
era criar exatamente uma estação dirigida para um público de alto poder de
consumo —a classe A, B1— uma televisão que não ficasse obcecada por índice de
audiência, até porque índice de audiência é uma coisa muito relativa",
afirmou o homem que firmou os alicerces da Rede Globo.
90)
"Se eu tiver 20% de audiência numa faixa de público sem
poder de consumo, essa audiência pra mim não vale nada. Talvez valha mais 5 ou
6% com gente com poder de consumo. Essa era a minha filosofia", arremata
Walter. E tinha mais: "A minha situação quando eu fui para Bandeirantes
era uma situação especial e foi muito bem colocada para os donos da emissora:
eu tenho um compromisso público contra o qual eu não posso me voltar. Eu tenho
que fazer uma televisão de qualidade, que represente uma integração
nacional"
91)
"Eu fui um dos caras que comprou essa ligação via
satélite da Bandeirantes... E o que eu acredito é que a televisão tem que ter a
sua imagem nacional, mas tem que ter também os resíduos da cultura regional
emitidos para os outros centros —é complicado, é um negócio de alcance social,
mas que a televisão tem que fazer. Porque senão é brincadeira, pô!",
exalta-se Clark.
92)
"Você não vai dar uma concessão de TV só para o sujeito
ganhar dinheiro! A Globo ganha US$ 80 milhões de lucro por ano (isso era 1986).
Se ela não prestar um serviço, tem que prender a Globo! ganhe US$ 80, 100, 200
milhões, mas presta serviço!", exclamou com energia o ex-diretor geral da
Vênus Platinada. "Essa é a minha visão", ajuntou. E quanto à sua
estada na Band, Walter definiu: "Eu não fracassei na Bandeirantes. A
Bandeirantes fracassou comigo".
93)
Considerado um mito pela sua atuação na televisão brasileira,
especialmente por suas conquistas na Rede Globo, chamado até de "Rei
Midas" pelo jornalista Carlos Lacerda, na extinta revista Manchete, Walter
desabafou: "Eu quero desmistificar o Walter Clark! O Walter Clark, por uma
série de conjunções e coisas que aconteceram na vida, virou um mito, um
sinônimo de sucesso —e isso é uma coisa insuportável! Eu sou um ser humano normal
e falível como qualquer um de nós, graças a Deus!".
94)
Walter Clark estava começando a produzir no Brasil o musical,
sucesso na Broadway, "A Chorus Line", com verba própria. Foi Marília
Gabriela quem apareceu para perguntar-lhe o porquê desse investimento no teatro,
ele que já tinha tudo, fama, consagração profissional e riqueza. "Saí da
televisão aos 40 anos. Vou ficar na beira da piscina tomando vinho branco? Não
dá!", retrucou o poderoso Walter Clark, que mandava até no próprio Boni,
quando diretor geral da emissora —cargo em que ficou por pouco mais de dez
anos, até deixar a Globo em suas mãos.
95)
Na metade final da década de 50, uma pequena emissora de
televisão carioca , alocada no canal 13, vinha sedimentando o hábito de ver TV
entre os habitantes do Rio de Janeiro. Por trás daquela verdadeira revolução,
estava a genialidade de seu jovem diretor, que nos anos seguintes faria fama e
fortuna como um dos maiores homens de comunicação de seu tempo : Walter Clark.
96)
Walter
Clark dizia: “Os motivos que levam um homem ao
sucesso são os mesmos que explicam a sua derrocada”.
97)
O que muita gente deliberadamente esquece, é que Walter
Clark, com a autoridade de testemunha direta da história, desconstrói a imagem
da emissora como porta-voz do “Brasil grande” de Médici.
98)
Walter Clark, Morreu na madrugada de 24 de março de 1997 no seu
apartamento que ficava na Lagoa, zona
sul do Rio
de Janeiro.
99)
O corpo do empresário foi encontrado por volta
das 9 horas da manhã pelos
empregados, que estranharam o fato dele não ter pedido os jornais, como fazia
todos os dias. Como ninguém respondeu, após os empregados bateram na porta do
quarto, eles a arrombaram e encontraram o corpo do empresário na cama. Os bombeiros foram
acionados e estes acionaram a Polícia
Militar que aguardaram os peritos da Polícia
Civil até o meio-dia, mas esta presença
foi dispensada com a chegada do médico particular de
Clark, o clínico
geralTanus Someson Tauksofreu.
100)
O médico assinou o atestado
de óbito, indicando que a morte ocorreu, provavelmente, por volta das
três horas da madrugada, enquanto Walter dormia. Segundo o laudo, a causa da
morte foi insuficiência
cardíaca e respiratória. O estado de saúde dele era bem
delicado, em função da hipertensão
arterial que tinha sido detectada havia quatro anos.
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